A autenticidade e os papéis que representamos

Este não seria o tema do meu artigo de hoje, porém, fiquei bastante preocupado com o comentário que ouvi de uma colunista de radio sobre o tema autenticidade.

Resumindo o comentário, foi dito que não podemos nunca deixar de dizer o que pensamos, não podemos guardar conosco o que sentimos, não devemos sorrir quando não queremos. Enfim, disse que temos que ser sempre autênticos, caso contrário, todas estas contrariedades podem nos fazer mal, como o surgimento de doenças, complicações de ordem psicológicas, estresse e etc.

Não discordo do comentário em relação aos malefícios de guardar apenas para nós o que estamos sentindo ou de expressarmos o que não queremos, como por exemplo o famoso sorriso amarelo, mas preciso discordar das ações sugeridas como: dizer sempre o que está pensando,  falar sempre o que esta sentindo e etc. Engolir estes sapos é ruim para nossa saúde? Sim,  aliás, gostaria de endossar esta questão citando Dejours (1993) que afirma que as variáveis do meio, interiores e exteriores transformam nosso aparelho psíquico em energia pulsional que se dispõem de três vias para ser descarregada, psíquica (estresse), motora (desequilíbrio) e visceral, pela ordem as duas primeiras vias deveriam dar conta do recado, mas se mesmo assim a tensão psíquica não tiver sido dissipada,  pois ela não pode durar muito tempo, a descarga visceral entre em ação gerando uma patologia.

Agora vamos pensar no nosso Cliente, porque ele teria que estar preocupado com as variáveis do meio que nos deixam de mal humor ou com a nossa preocupação com a autenticidade. Temos que lembrar sempre que independente do nosso estado de espirito, o Cliente precisa ser muito bem atendido, com educação, gentileza e assertividade, esta última muitas vezes confundida com autenticidade.

O que fazer então? Precisamos aprender a administrar a situação, por exemplo,  em um “dia ruim” é melhor não visitar aquele Cliente polêmico, muito exigente, implicante, caso a comunicação for inevitável, enviei um e-mail claro, assertivo e educado, que não gere dúvidas e explicações; evite o confronto, converse com um colega, peça ajuda para contornar uma situação difícil.

Existe para cada caso uma maneira de administrarmos este estresse, precisamos apenas conhecê-las e aplicá-las no momento oportuno. Será que precisamos correr o risco de criarmos uma situação ruim e constrangedora para todos, a título da autenticidade ou de um “sapo” que não queremos engolir? Será que precisamos mesmo correr o risco de criarmos uma situação ruim e constrangedora para todos, a título da autenticidade ou de um “sapo” que não queremos engolir?

Lembrando que vamos sempre representar um papel, seja em casa, no trabalho, com os amigos e também com os Clientes, pois, por mais autênticos que sejamos, cada pessoa que conhecemos nos vê e nos lê de uma forma diferente do que acreditamos que nos veem.

  Carlos dos Santos DEJOURS, C.; DESSORS, D.; DESIRAUX, F. Por um trabalho, Fator de Equilíbrio. RAE – Revista de Administração de Empresa. São Paulo, p. 98-104, maio/Jun. 1993.

Carlos dos Santos